Dei a luz a uma menina linda e doce. A idealizei tanto em meus sonhos. De olhos fechados pude enxergar um quarto decorado em amarelo com detalhes em cetim branco, um lençol claro cheirando a Confort azul dava um ar de novo ao berço que um dia serviu a mim. Ainda sonhando abria a porta sorrateiramente para espiar seu sono, zelar por sua noite e observar como Deus é lindo visto de tão perto; neste momento é quando ela boceja e resmunga algo baixinho, quase que silenciosamente é como se chamasse por mim, e precisasse somente de mim naquele momento, mal sabia ela que quem necessita dela sou eu. Parece que foi ontem que eu a acalentei em meu braços, que a vi dar o primeiro passo, a largar a fralda; o primeiro dia na escola foi a primeira preocupação que eu tive porque não poderia protegê-la e não ouviria seu resmungar. Ai como eu sofri a primeira decepção amorosa dela, eu queria estar em seu lugar porque eu saberia exatamente o que fazer para não permitir que ela sofresse e se decepcionasse e evitaria que ela amaldiçoasse os homens de sua vida.ENTÃO, como de súbito me peguei acordada e percebi que involuntariamente havia abandonado ALICE: a defensora, protetora. Essa fui eu, nasci, cresci, aprendi com pessoas, tive meus porres, minhas noitadas (confesso que essas ainda se fazem presentes), me decepcionei com os homens e como me decepcionei! Mas hoje eles não me assustam mais... Ó céus ALICE FOI ENCONTRADA MORTA! Essa será a manchete de segunda-feira: Bateu com as botas na madrugada de ontem, Alice, doce ilusão de um poeta subjugado pelos seus amores. Decidido a acabar com a fonte de sua inspiração, o jovem mascarado, por sentir vergonha de suas mentiras, matou a menina com um punhal cravado no peito, Alice não teve nem como se defender de um golpe tão duro e certeiro, a ela só restou a calçada fria durante a noite e ao poeta menino, mascarado por séculos, a fuga, o medo e a incerteza de como poderia ter sido se ele a tivesse mantido viva, para ser amada pelo povo. Ela seria a sua musa idealizada, o amor que se fez somente para ele, para ele e ninguém mais. Ó céus Alice está morta e eu Ludimila do Nascimento Bassan nem sei por onde começar...
Já dizia Alice: "a mulher é triste pela dor do parto"
Parto hoje sem qualquer destino
Parto agora sem o olhar do menino
Parto porque sei que a vida me deu algum sentido
Partiria mesmo se eu quisesse ficar
Parta e ria como se seu último dia fosse acabar
Para a pátria você só pode oferecer
Tudo aquilo que a pátria não tirou de você
Para ser mais sincero, a Alice é que sabe viver
Ela enxerga além dessa dor do parto
E se você ainda pensa que Alice é mulher
É melhor que reveja seja lá o conceito que você tiver
Porque ser Alice é muito mais, ela vai mais além
do que toda a hipocrisia que essa gente tanto quer
Ludimila do Nascimento Bassan
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Há algumas horas ela deixou para trás sua Alice
Como se nunca mais fosse encontrá-la novamente
Não da mesma maneira quando ela sorrisse
Nunca mais seria a mesma que ele tinha em mente
Sentia sua vida indo embora
Embora nunca tenha permitido sua partida
Permanecendo em sua janela de hora em hora
À espera de seu refúgio, certeza, saída
Mas vejam só como age a nossa coragem
Um dia duvidamos e ela resolve aparecer
Em um momento Alice era só imagem
E no próximo, algo a se esquecer
Alice sempre foi uma menina dada à loucura
Nunca souberam se um dia ela chegaria a voltar
A única certeza é que ela foi atrás do que procura
E assim, seguindo por uma estrada escura
E assim, perseguindo aquilo que busca
A longa estrada do sonho ela há de iluminar
Ultimamente a minha vida está uma correria, estou atolada de poemas inacabados, começados durante minhas viagens de ônibus diárias. No percurso encontro cada figura que me inspira que eu fico louca *-* uma pessoa mais linda que a outra, é uma pena essa dificuldade em dividir tudo isso com vocês...
Espero, em MUITO breve estar de volta só preciso de mais alguns dias para finalizar meus projetos e está tudo certo.
Só para ir adiantando: os próximos artigos que estarão presentes nessa página serão -
A política do salto alto e a Necessidade da perda.
obs: eu e a minha irmã linda, meu botãozinho de rosa...
"...creia-me, os fatos mais deploráveis, quando tomam o bom caminho podem levar à felicidade"
Creonte - "Édipo Rei"- Sófocles
Ainda não encontrei nada mais autêntico e profundamente verdadeiro do que o arrependimento e há quem diga que mais uma desculpa à toa é capaz de resolver, porém se existe algo que seja diretamente proporcional a arrepender-se, esse algo é o perdão.
A necessidade de ser perdoado é uma das semelhanças do ser humano, já que o homem possui a natureza errante de qualquer indivíduo. Ele adquire um comportamento desigual em proporção à sociedade que construiu, portanto as suas escolhas e atitudes são reflexos do seu cotidiano social. Nesse exato momento as pessoas se encontram à mercê da ferramenta que construíram e confrontando-se com a consequência de suas próprias decisões geram a necessidade da recriação de uma nova sociedade, de um novo inter-relacionamento a partir daquilo que aprenderam e foram capazes de evoluir através de todas as suas atitudes e decisões.
Aceitar as limitações humanas e saber conviver com a enorme capacidade de aprendizado enraizada em cada indivíduo é o melhor caminho em busca da aceitação própria em relação à essa sociedade constantemente adaptada. Há quem afirme de punhos cerrados sua autenticidade no mundo, e eu defenderei até o último dia essa afirmação. Ora, culturalmente falando, somos frutos do sistema autoritário e coercitivo que gera moral e valores em massa, ora a própria cultura defende o diferencial de um povo: religião, etnia e entre outros referenciais. Partindo desse princípio, o que nos difere dos demais? Eu, você e eles? Não seríamos frutos do mesmo meio e logo teríamos os mesmos valores culturais?
Eu digo que não! Cada ser conheceu seus medos e heroísmo, cada qual é capaz de discernir seu grau de conveniência do moralmente correto e incorreto. Todo indivíduo carrega consigo um montante de experiências em forma de dados, apenas acontecidos; esses dados são processados e geram informações que o enchem de poder. Sim, informação é poder: poder de decisão, de escolha, de argumentação, de autoridade poder de maturidade.
Assumir um erro, não quer dizer que o envolvido esteja diretamente errado. Assumir um erro, ou qualquer responsabilidade é adentrar aos riscos, é envolver-se até a última gota de perseverança, por esse motivo, pedir perdão é algo tão difícil atualmente, porque eu, você e eles já estamos tão cheios de responsabilidade pela vida de outras pessoas, e a maioria delas nem sabe da nossa possível existência, que assumir parte da direção de nossas próprias vidas já não cabe em nós mesmos.
Perdoar vai além das fronteiras do entendimento, é abrir mão de conceitos pré definidos entre certo e errado, pois de alguma forma magoamos pessoas, assim como elas nos magoam, e sim, elas também derramam lágrimas como eu, como você e até mesmo eles. Elas são capazes de sorrir e de fazer alguém sorrir, assim como todos são. Perdoar é doar-se sem esperar retorno, é negligenciar-se em prol da consciência alheia, é amar o próximo quando ele mais precisa, é caminhar de mãos dadas quando a sociedade nega a sua existência.
Amar é perdoar de olhos fechados e se entregar sabendo que muitos apontarão seus erros que você sempre quis esconder até de você mesmo. Um dia perguntaram a alguém quem era melhor: aquele que era diferente ou aquele que fazia a diferença; então calmamente ele respondeu: "O melhor é aquele que luta contra a própria indiferença".
"... o que se procura se encontra; é o que se negligencia que se deixa escapar"
PS: Talvez não tenha sido o momento, talvez tenhamos errado juntos. Culpamos um ao outro em tudo sem perceber que ninguém tinha razão, mas quem disse que alguém deveria ter? Me falta o juízo quando desejo, me falta a coragem para voltar atrás, me faltam até mesmo as lágrimas. Aonde foi parar aquele menino, de olhar tranquilo, que sonhava comigo, que apostava em um futuro, que era meu amigo, meu companheiro, meu confidente, meu pai às vezes, meu amor, meu sorriso, minha saudade...?? Acabou o sonho, acabou o momento, acabou o amor, acabou o tempo?ACABOU? Não se crucifique... venha me reencontrar e eu já não vejo a hora....
Dedicado a encontros e desencontros de um sentimento que nesse exato momento está mais evidente do que nunca, porém só enxerga quem deseja ver, quem aprende a enxergar com os olhos do amor..
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Hoje, sinta a dor da saudade
Daquilo que nem mesmo começou
Não se entregue pela metade
Não se torne parte do que restou
Seja breve, porém não vazio
Tenha em mente que o calor se vai
E o que fica é somente o frio
estado de tudo o que não se quer mais
Deixe levar tudo o que não merecer outra chance
Deixe ficar aquilo que for melhor que ruim
Do que desejar se lembrar deixe na sua estante
O que não quiser, devolva para mim
Escolha o que quiser
a vida está a serviço de todos
Não tema o que vier
agarre o amor a grosso modo
Se os olho de alguém refletiram a luz dos seus
e em silêncio demonstrei que o seu lado é melhor
Vai fuja esqueça a felicidade que te deu a liberdade
Ao sabor do vento estou me deixando levar
À espera de algum momento poder lhe falar
Que em meio ao frio de um corredor qualquer
Consegui enxergar nos olhares indefinidos
De alguém que sabe muito bem o que quer
O que de fato existe por detrás dos olhos tímidos
Que conseguiram me cativar como mulher
a vida espera mais de mim
mais além, mais de mim
O eterno aprendizado é o próprio fim
Já nem sei se tem fim
De elástica, minha alma dá de si
Mais além, mais de mim
Cada ano a vida pede mais de mim
mais de nós, mais além"
Eu e a vida - Jorge Vercillo
Não sei até que ponto minhas atitudes foram corretas e tão pouco poderei afirmar, com total certeza, que renunciar a um sentimento tenha sido a melhor escolha a se fazer. Recentemente estive no centro da cidade para resolver alguns assuntos de trabalho e em uma esquina qualquer deparei-me com um grupo de mulheres, elas usavam umas saias coloridas e seus cabelos eram cheios de cachos. Uma delas veio em minha direção e pediu para ler a minha sorte contida na palma das minhas mãos, para ser sincera, não acredito muito nessas superstições, mas uma coisa que ela me disse me deixou um pouco perturbada, não pelo fato de ter sido pronunciada por ela, mas sim, por ser algo que eu já tinha conhecimento e estava trabalhando para melhorar: "Nossa, como é orgulhosa". Talvez o orgulho seja uma das minhas maiores dificuldades. Quando eu estou errada e consigo enxergar isso, sou a primeira a desejar que a situação seja resolvida em uma conversa, mas se todos os fatos apontam a favor do que eu acredito como verdade, posso me afastar, tornar-me uma pessoa fria, distante e introspectiva. Como diria o sábio William Shakespeare: "Quem é orgulhoso a si próprio devora.". Sei que perdi muitas oportunidades, deixei de conhecer pessoas maravilhosas, neguei-me uma possível história de amor, afastei de mim uma das poucas oportunidades de dedicar-me a alguém por completo e ter a certeza que me dedicariam a vida. Com o passar dos dias, percebo que a minha vida me cobra as atitudes que eu deveria ter tido em momentos que o orgulho estava pedindo para ser evitado. Não adianta eu ficar me flagelando ou culpar a vida ou as pessoas por algo que depende somente de mim para mudar. Cada dia é um passo e de nada valerá dar um passo maior que a perna. Mas sei que posso me esforçar mais e dedicar-me à mudança, mesmo porque a vida me prepara e me cobra, me coloca à prova os conhecimentos que a experiência nos trouxe, sou a própria vida, sou a existência, sou a mudança que eu quero ver.
Jamais havia escutado tanto a palavra saudade como nessa última semana. Pesquisando em dicionários encontrei a seguinte definição: "Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las". Portanto, para que exista a saudade de fato, é necessário que ela esteja acompanhada da distância. A saudade nos torna pessoas angustiadas, guardando nossos mais profundos desejos até que no momento adequado possam ser concretizados. Por isso nos sentimos tristes quando estamos com saudade e toda a culpa é da angustia desencadeada por ela. E maior que esse sentimento, que dia e noite nos mantém exaustos, é a distância que se sente mesmo permanecendo ao lado. Com o passar dos dias e o aumento da convivência com quem em algum momento passaremos a sentir saudade, é natural que proporcionalmente a intimidade, o carinho e o respeito passem a se equiparar ao tempo que se gasta em prol de um relacionamento. Porém quando essa situação toma um rumo decrescente e retrógrado, as pessoas começam a se afastar naturalmente, não se reconhecem olhando um de frente para o outro, perdem suas afinidades com o tempo, esquecem-se de acrescentarem-se uns aos outros e perdem a essência do que um dia foram. Se a culpa é do cansaço ou da monotonia, já não cabe a mim definir, mas se eu pudesse arriscar um palpite diria que é a ausência de companheirismo e compreensão. Cada relacionamento possui suas carências e necessitam de atenção em determinados aspectos, ele não deve ser banalizado e esquecido apesar da distância, pois em algum momento, por menor que tenha sido a proximidade das pessoas nos acrescentou algo que porventura é parte do que somos agora, apenas você e eu.
"Ontem parece uma vida atrás
Porque aquela que eu amo
Hoje eu quase não conheço
Você eu segurei tão perto do meu coração, oh querida
Certo dia acordei com uma imensa vontade de conversar com alguém, mas não poderia ser com qualquer pessoa e muito menos com quem eu estivesse habituada a gastar tempo. Estava decidida; precisava encontrar um alguém que eu jamais tivesse obtido contato, quiçá nunca antes conhecesse ou no mínimo tivesse visto de passagem.
Era uma manhã de domingo, e há tempos havia planejado uma visita aos meus avós. Me levantei, tomei conta de alguns afazeres domésticos e contra algumas "vontades" peguei o ônibus que me levaria até o meu destino. Eram tantos rostos diferentes, alguns tristes, cansados, outros sorridentes e esperançosos, no banco da frente estava uma criança que chorava sem cessar, sua mãe encabulada tentava de todas as maneiras silenciá-la para que fosse reduzido o tamanho do seu constrangimento em meio ao público que assistia àquela cena implorando calado para que pudesse dar o sinal e descer no próximo ponto.
Após uma longa caminhada que se seguiu por uns dois quilômetros, ali estava eu na esquina da rua que ainda sem saber, mudaria toda uma maneira de pensar.
A casa dos meus avós, era um lugar inconfundível por aquele bairro, para falar a verdade, tenho 18 anos e ainda não me recordo ao certo número fixado na parede, 273, 173 ou quem sabe 123? Enfim, é a famosa casa do fusquinha azul e da brasília bege. Mas recentemente, a fachada da residência dos Alves de Lima Bassan ganhou outro ponto de referência: a casa do senhor atrás da grade. Devido a algumas complicações de saúde o patriarca da família está à serviço de uma cadeira de rodas.
Por segundos fixei meu olhar naquela imagem: um senhor de cabelos brancos, os quais razoavelmente, demonstravam sua idade, era magro e ainda não compreendo como todas as vezes que meus olhos encontram com o seu rosto, tenho a impressão de que ele está sorrindo, sorrindo com os olhos.
Meu avô costuma gabar-se dos tempos da sua mocidade, quando saía de casa com seu violão nas costas e migrava pelas rádios da cidade em busca de uma chance para poder demonstrar o seu talento. E durante inúmeros almoços de família na casa do fusca, cresci. E foi ao som dessas duas músicas:
Mas naquele dia o almoço foi silencioso, não existiam cordas, não havia um gravador, não existiam vozes soltas pela casa, não ouvia-se o latido do cachorro e nem o cantarolar rouco do galo. O telefone não tocava, a TV não estava sintonizada no programa "Terra da Gente", nem mesmo a corrente de vento chegou a balançar as cortinas de crochet porque essas mesmas cortinas não estavam mais no lugar de costume. Os beija-flores decidiram não mais frequentar o quintal, os bebedouros ainda estavam cheios de água doce. Meus domingos deixaram de receber os carinhosos "Bon Giorno, Come Va?". Na realidade, não existia nada mais naquela casa além de um italiano e sua neta sentados em uma mesa que costuma receber 8 pessoas que se revezavam com mais 8.
Como de subto entregaram um violão nas mãos daquele homem que com dificuldade tentava ajeitar seus dedos que quase imploravam por um dedilhado. Na primeira tentativa o som não saiu, na segunda também não, na terceira percebi uma expressão de indignação e ligeira confusão, na quarta um questionamento, na quinta saiu alguém do quarto, na sexta saiu uma lágrima.
Durante alguns instantes permaneci calada, na esperança de poder ouvir novamente o Abismo de Rosas sem perceber que a rosa da canção estava enfrentando o mais íngreme abismo a ser escalado.
Cada processo pelo qual ele passa deve ser encarado como a maior conquista do mundo, pois para ele, uma figura tão ativa que era acostumada a fazer artesanato em cadeiras, realizar manobras arriscadas com seu fusca (como desligar o carro em plena avenida) e exercitar a mente com quebra-cabeças e charadas que até hoje não compreendo muito bem, cada progresso seria como aprender novamente.
Se tem uma coisa que ele nunca se esquece de me perguntar quando eu vou lá é sobre o meu namorado. Bom, para os menos informados, eu não namoro, mas ele insiste em pedir que eu o leve para um almoço na casa dele. Quem sabe até lá a casa não esteja lotada de pessoas novamente, com bisnetos por todos os cantos, correndo pelos quartos, ocorrerá um casamento a cada ano e todos passariam as férias na casa da natureza que meus avós passaram cerca de 20 anos construindo e não poderem usufruir de tudo o que eles com tanto amor sonharam juntos.
Hoje, tenho a impressão de que muitos problemas relacionados à família vieram à tona após as necessidades atuais desse senhor, ou talvez tenham ganhado uma maior magnitude quando todos os membros precisariam da chamada união para lidar melhor com o acontecimento. Mas, infelizmente cheguei à conclusão de que UNIÃO era justamente algo que sempre faltou. Atualmente a questão não possui como epicentro o patriarca da família e sim toda a sua marginal.
Divagando comigo mesma e uma mesa, fui surpreendida com uma declaração que me fez desmoronar por completo e colocar à prova tudo o que eu conhecia por felicidade, gratidão e família. Todos os meus pensamentos e ética juntaram-se em alguns minutos e me fizeram compreender o real motivo de estar ali. Olhei para aquele sorriso do seu olhar e o ouvi dizer a seguinte frase: "É ruim essa situação, ficar dependendo das pessoas, dar trabalho para elas, elas tem mais o que fazer, sempre tem, eu não queria dar trabalho para ninguém entende?"
Então era assim que ele se enxergava para seus entes queridos, como um peso, algo que se desejado poderia ser desfeito ou esquecido. Algo dispensável a qualquer momento, sinceramente, considerar-se algo, no caso um problema, já é um princípio de abandonar-se à si e entregar-se à situação, sem esperanças de sentir-se um alguém novamente.Em seguida levantei-me fui ao banheiro, joguei uma água no rosto e me sentei em frente ao espelho refletindo através do reflexo no qual me via, e assim pela primeira vez me enxerguei de fato como membro daquela família e mesmo que por muitas vezes minha voz e minhas opiniões tivessem sido caladas, era o momento de exteriorizar meus pensamentos e reconstituir, primeiramente em mim, o significado de união e círculo familiar para que depois eu pudesse levar meus desejos adiante.
Gratidão vem seguida de amor, compaixão e misericórdia, talvez a única coisa que ainda exista seja a compaixão com resquícios de extinção. O que eu presenciei nesses últimos tempos tem sido a verdadeira diáspora dos semelhantes mais próximos que alguém teria, de uma maneira fria, egocêntrica e hipócrita como jamais vi. Até algumas semanas eu temia pelo mundo, por assaltos, por guerras e pela morte, ambos os termos estão relacionados com a perda, perder bens, perder vidas, perder a razão. Hoje não temo mais a morte, pois ela é natural, não temo assaltos, porque um dia posso recuperar o que perdi, ainda temo a guerra pela natureza humana, mas temo muito mais a perda de caráter e humanismo.
Anoiteceu, o senhor dormiu, e eu segui o meu caminho. Tomei o ônibus na esquina e adormeci. Ao chegar em casa abri um livro e o parágrafo mencionava: " Olhou para a velha roseira ressecada e meio enterrada na neve, ao lado da castanheira despida. Estava toda coberta de rosas vermelhas". Então abri a janela do quarto, olhei para o céu estrelado, e a brisa me sussurrava aos ouvidos o segredo: Era noite de lua.
Às vezes a gente se esquece
que o amanhã só pertence à Deus
E tenta acelerar o passo
Mudando o compasso do que ele escreveu
E então o que realmente importa
O homem esquece e joga fora
Como se algo não fosse seu
Todo o amor que precisa o mundo
Está em algo mais profundo
Bem no seu próprio eu
Clareia a manhã
É a vida que passa pela janela
E o teu sorriso
Talvez seja a única coisa mais bela
Já é de manhã
Quando as ondas do mar beijam o rosto da areia
Na pele eu sinto
O calor do teu sol e a minh'alma incendeia
Se você quer que o mundo mude
Comece a mudança em seu interior
Não espere de alguém atitude
Tome a iniciativa e dê mais amor
Mas se não mais amanhecer
O hoje dobrará o seu valor
Peço licença ao poeta
Mas nas mãos ainda sinto
O perfume da mais linda flor
Após mais uma rotina cumprida, a menina retornava para o seu destino. Naquele dia em específico, o ônibus devia ter atingido a sua lotação máxima, não havia espaço para coisa alguma. Crianças no colo das mães, braços entrelaçados os quais com certa dificuldade esforçavam-se para equilibrar corpos que se encaixavam em espaços milimetrados. Cada pessoa que se levantava do assento desviava, em frações de segundo, todos os olhares dos passageiros que entreolhavam-se. Com o passar do tempo, ela acabou percebendo que existe uma hierarquia para a ocupação desses assentos:
Pimeiro os portadores de deficiência,
Segundo as mulheres que carregavam crianças no colo,
Terceiro as senhoras de rugas, que não precisavam, necessariamente, possuir alguns fios brancos na cabeça
Quarto, as muheres que não correspondiam às características anteriores,
E em último lugar, os estudantes, como ela.
Nessa ocasião, um dos lugares estava vago, houve uma dessas trocas de olhares entre a menina e uma senhora silenciosa sentada no banco ao lado. Esse era o sinal, captado rapidamente pelos seus sentidos, sinal esse que a fez ocupar o assento até então vazio. Durante alguns segundos, a menina observou a expressão da mulher, ela parecia triste e solitária, mas não tomou nenhuma iniciativa, permaneceu em silêncio e sorriu para a senhora sentada que para o seu espanto, retribuiu o sorriso que pedia por alguns minutos de atenção e paciência.
Quando a menina se deu conta, já sabia de toda a trajetória da mulher que dividia o espaço com ela. Seu nome era Lourdes, em cada traço, rugas e marcas desenhadas pelo tempo em sua face, havia uma história a contar que valia a pena ser ouvida por mais simples que fosse. Lourdes era separada e morava sozinha em um quarto nos fundos de uma casa, a guarda dos filhos ficou com o ex -marido no Paraná. A criatura à qual ela se referia com tanto carinho, seria considerada por muitos um ser desprezível e desprovido de qualquer sentimento, sendo ela o homem com quem fora casada por muitos anos. Durante os últimos 15 anos sentiu aquele vazio de uma mãe sem poder zelar pelos seus filhos.
Além de comentar sobre a saudade que sentia da sua família, a mulher mencionou um homem que conhecera a pouco tempo que a tratava bem, que queria namorar com ela e tentar construir uma vida ao seu lado, mas ela tinha medo, medo de arriscar, de decepcionar-se novamente, depois de tudo o que passou e da perda mais preciosa que ela pôde ter. Em contrapartida, em seu íntimo, a menina tentava balancear os seus conflitos com a vida que Dona Lourdes teve e chegou à conclusão de que seus problemas são do tamanho de uma pulga, então, pela primeira vez percebeu que não estava sozinha no mundo, e que ele estava cheio de pessoas que também possuíam dificuldades para que fossem superadas.
A menina admirou o prazer de viver estampado nas palavras da mulher que dividia o assento ao seu lado. Descobriu as maravilhas proporcionadas pela superação, constatando que dinheiro não é sinônimo de satisfação pessoal, mas sim tradução de consumo. E foi então que ouviu pela primeira vez uma senhora que devia ter seus 50 anos de experiência falando de amor, da necessidade que o ser humano tem de ser amado e dedicar-se a alguém e simultaneamente desejou viver baseada no amor.
Em alguns momentos, a menina teve a impressão de estar conversando com uma de suas amigas colégio que falavam sobre sua paixão platônica, mas não, era uma mulher. Uma mulher? Para ela, todas as mulheres estavam acima dela, não sentiam medos, eram fortes e determinadas além de encontrarem-se no mesmo patamar de maturidade. Para a menina foi um choque entre pré conceitos e a realidade que acabara de presenciar.
A mulher despediu-se, apertou a campainha e desceu as escadas seguindo o seu caminho. Não se sabe ao certo qual fora a escolha de Dona Lourdes depois daquela conversa que tivera com a menina da linha 1.54, mas com certeza, a menina sabia o que desejava a partir daquele dia: percebeu que precisa ter medo de arriscar, mas não por consequência do erro, mas para que não viesse a prejudicar ninguém ao seu redor. O medo é um termômetro de nossos momentos de loucura em função da vida real, se a temperatura está muito elevada a situação torna-se insuportável e se está reduzida ao extremo, perde-se melhor da vida. Por isso, a realidade não é de todo o mal e nem mesmo o que é comum, o que vale é saber regular o termômetro conforme o momento.
Acordei com uma vontade de fazer um bolo de chocolate, mas parece que na maioria das vezes em que desejos como esse aparecem, a cozinha dá logo um jeito de abduzir um dos ingredientes mais importantes da receita, e hoje foi a vez do leite condensado.
Com o passar do dia acabei desistindo de fazer o bolo e minha mente praticamente apagou esse desejo que não teria qualquer oportunidade de ser colocado em prática, a não ser que alguém tocasse a minha campainha e fizesse um entrega super inesperada. Convencida de que essa opção não seria viável, acabei no msn (lugar onde as pessoas costumam se reunir para não fazer nada em conjunto, se bem que é algo ilusório...).
Parece que o dia estava pedindo realmente um bolo, só não esperava que ele seria materializado no sentido conotativo da palavra. Quem nunca passou por uma situação embaraçosa como essa? Alguém faltar em um compromisso e te deixar lá plantada? No momento eu pensei que eu seria a pessoa mais zicada do mundo, mas acredito que não. Momentos como esse demonstram como a vida é doce e requer um pouco mais de leveza.
Por esse motivo, eu observo, processo, compreendo, respeito, MAS NÃO ME FIXO NO MESMO LUGAR. Talvez o bolo que eu esperei durante toda essa terça-feira, tenha sido esse, para que eu pudesse perceber que a vida é uma inconstância, uma bipolaridade incompreensível, bem como a hipocrisia humana.
Esse foi o bolo mais saboroso que alguém poderia me dar, tinha gosto de LIBERDADE!
"No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade"
Albert Einstein
Recentemente, estava revirando meu armário e tive o grande prazer de encontrar, escondida em meio as caixas de sapato e alguma bonecas, minha caixa de cartas. Sentei no chão do quarto e comecei a lê-las. Esse momento poderia ter trazido recordações, lembranças e saudades, mas na minha opinião, ele trouxe consigo algo muito maior. Pude observar minha vida por quem enxergava algumas situações por outro ângulo senão o meu, enfim, foi um momento de grande conflito e reflexão com alguém, que hoje, após essa experiência, passou a conhecer-se melhor, a entender e respeitar seus limites, a não temer perante um momento que seja capaz de alterar o curso do seu planejamento, e, além disso foi possível compreender o que eu fui, o que eu sou e quem eu quero me tornar.
Há algum tempo atrás, eu era feliz com coisas tão pequenas, na realidade, não eram as coisas que me importavam tanto, eram os momentos que eu vivia com as pessoas, sendo que esses mesmos momentos eram capazes de transformar uma saia em peruca, uns fios de barbante em colares e uma escova de cabelo em um microfone e PLIM! Como em um passe de mágica, lá estávamos nós em Paris em um grande show cujos ingressos haviam se esgotado.
Ao retirar uma das cartas contidas na caixa, lá estava eu de frente para um garoto mais velho e de cabelos compridos me falando coisas bonitas e me fazendo acreditar que eu era a pessoa mais linda do mundo e PLIM! Lá perdeu-se minha infância, minhas bonecas, meus shows em Paris. Havia beijado o primeiro garoto da minha vida. Me lembro que nessa mesma época tive minha primeira frustração amorosa, que aconteceu menos de 24h depois de ser beijada...
A partir desse dia, descobri o valor da amizade e passei a pensar que todos os homens que eu conheceria futuramente seriam completos idiotas.
Em um pequeno bilhete: mudança de planos, arrumei um namorado no auge dos 14 anos. A família surtou, os amigos surtaram e ao final de 6 meses, a surtada era eu! PLIM! Percebi que os homens são semelhantes, trocam de mulher como trocam de roupa, ou seja, recentemente fui informada que esse namorado vai se casar com a minha vizinha... O que vocês pensariam no meu lugar?
Após esse período não possuo registros em cartas. Mas, acredito que o maior aprendizado que eu pude ter durante esses 18 anos não estará contido em alguns papéis, que com o tempo se deterioram e viram pó, e sim em cada parte de mim, em cada característica adquirida, em cada atitude, em cada escolha...
Muitas vezes já me pediram para que eu me definisse como pessoa, afinidades e todos aqueles blá blá blás e eu não consegui. Mas hoje, eu sei exatamente quem eu sou. Aprendi a organizar minha vida, meus planos, minhas metas e meus meios de atingi-las (só não entrem no meu quarto durante a semana!). Aprendi que para cada situação que as pessoas passam, existe um tempo, um momento e uma razão, na realidade nunca sabemos a razão, mas o momentos será definido de acordo com as escolhas realizadas por todas as partes envolvidas. Tudo bem, não disse quem sou eu ainda--'.
Digamos que sou um retrocesso, rumo ao progresso. EXATAMENTE! Tudo o que eu vivi, foi responsável por tornar-me quem sou hoje, eu tenho a necessidade de parar, respirar e dizer CALMA! Olho para trás e percebo tudo pelo que eu passei, as minhas atitudes, revejo minhas decisões e escolhas, traço novas rotas, remanejo atalhos para continuar cometendo erros, e eu sei que isso é uma busca constante durante a vida, não só por mim Ludimila, mas por todos os seres da Terra, a busca pela perfeição é nítida em qualquer espécie espalhada pelo planeta. A diferença, é que de todos esses erros, pude tirar proveito e tudo me serviu como experiência. No entanto, admitir o erro, aprender com ele e remoldar os planos é um progresso para que futuramente não seja necessário retrabalhar o que um dia já foi feito em sinônimo de perfeição.
Posso ser:
*aquela que um dia você viu na rua, descalça de cabelo preso gritando "Passa a bola"
*aquela que subiu em um palco toda tímida para dançar ROUGE
*aquela que por várias noites sentou-se na sacada escrevendo algumas coisas que ela não mostra para qualquer pessoa
*aquela que sempre tirou nota baixa em matemática, mas sabe vender uma ideia
*aquela que já se prejudicou pelo prazer de ver alguém sorrindo
*aquela que você conversou no ônibus enquanto todos dormiam
*aquela que possui várias cicatrizes, mas a maior delas é imperceptível ao olhar humano
*aquela que vai jogar sinuca no bar só para acompanhar a amiga, porque na verdade ela nem gosta tanto de sinuca
*aquela que ama, incondicionalmente, inexplicavelmente e que está se sacrificando por um amor que ela sabe que é o único de sua vida, por entender e respeitar tudo o que aconteceu nos últimos 4 anos...
*aquela que sonha, que tenta demonstrar esse sonho desejando profundamente, apesar de todos os NÃO's que a vida lhe ofertou, que alguém os compre...