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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

De uma vez por todas




Há um tempo antigamente
Costumava achar que era gente
Carregava a vida nas costas
Mas não tirava os olhos do chão
Porque assim seguiria em frente
Sem o risco de encontrar um caminho
Que por vontade própria ou simples desvio
Mudasse toda a sua direção

Mas você ao meu lado me dá resistência
Abre minha mente, me leva na inocência
E somente uma coisa lhe pesso
vem devagarinho, vem sem medo
Para não me deixar sozinho
Não sozinho tão cedo

E se por um acaso a pressa vier a calhar
Não pense que serei eu quem vai evitar
O que lhe trouxe até aqui foi sua carência
Jamais duvide da força de todos os desejos
E quando se lembrar do calor dos nossos beijos
Vem correndo, pode ser até meio sem jeito
Que eu te faço meu direito
Para acabar de uma vez com essa nossa ausência

Ludimila do Nascimento Bassan


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Rei de mim



    Coroaram-me rei de mim! Oh céus, que descuido do monarca ao colocar-me como herdeiro legítimo do trono. Durante seu reinado, vários cobiçaram o seu posto, colocaram-se como dignamente perfeitos para ocuparem tal cargo além de que, em juramento, afirmaram que permaneceriam completamente íntegros durante o período em que governassem.
    Lembro-me muito bem de um senhor calvo adentrando pelas portas do palácio, ele deveria ter cerca de meio século de vida, a barba ainda estava por fazer e carregava debaixo dos braços uma pasta. Dirigiu-se ao rei e entregou os documentos que carregava, neles estavam contidas algumas informações sobre os impostos arrecadados durante toda a estação em forma de papiro da mais alta qualidade e escritas com sangue. O Rei pegou seu anel mergulhou na cera líquida e em forma de assinatura carimbou o documento.
    Então, tomei a liberdade de me aproximar e pude perceber uma certa melancolia nos olhos do rei, talvez uma tristeza ou sentimento de culpa por algo. Não foi necessário que eu dissesse alguma coisa para que ele erguesse o rosto e fixasse o seu olhar nos meus, para que começasse a conversar com um estranho, que não sabia fazer outra coisa além de limpar a poeira da sola dos seus pés.
    "Criança, você não sabe o desejo que eu estou de cobrir-lhe com o meu manto e coroá-lo Rei de mim e em troca arrancar das suas mãos essa vassoura que há tanto tempo você utiliza para limpar a minha sujeira, minha podridão, meu fardo, o qual se tornou tão pesado que não posso carregá-lo sozinho. Cresci, ouvindo a voz do meu pai que sempre esperou de mim honra, justiça e paz. Ao tornar-me rei, me transformei também em juiz, tive que julgar as pessoas por seus atos, suas palavras, suas roupas, suas culturas; não sei mais em quantas guerras envolvi meu povo por meus próprios interesses, para que as minhas palavras, os meus costumes e as minhas vontades prevalecessem. Nunca toquei em uma única arma, pois para isso eu tinha meu exército composto pelos homens mais fortes e destemidos do reino, mas matei tantas famílias e aniquilei todas as possibilidades de construção de outras utilizando uma simples palavra. Adquiri toda riqueza possível que um rei pode ter, possuo mais terras anexadas ao meu reino do que eu mesmo posso imaginar, a maioria delas eu jamais visitarei, a cada estação o meu estoque é renovado e eu continuo tendo tudo do bom e do melhor para viver de uma maneira confortável, porém o meu povo ainda continua miserável. O mesmo povo que levantou esses pilares, que conquistou estas terras, que plantou o trigo para a colheita, que não dorme para assegurar que o seu filho estará vivo na manhã seguinte. A esse povo, a essas pessoas, deve ser entregue todo esse mérito que inconscientemente dão a mim. Por isso criança, a partir do poder que recebi dos meus antepassados, o corôo Rei de mim. Faça desse teu servo o que bem entender, julgue-me, prenda-me, mate-me, esse poder não me pertence mais, foi entregue totalmente a você, a quem agora chamo de Meu Senhor."
    Colocou-me então sua coroa, e seu manto, então diante de mim, vi um homem nu, despido de todas as suas vergonhas, confessando suas mais íntimas angústias a alguém que nada mais sabia fazer do que tirar a poeira dos seus pés. Como eu poderia julgar aquele homem que perdera sua honra, não conhecia a justiça, mas necessitava como toda a humanidade encontrar a paz. Por esse motivo, deixei a coroa no chão, estiquei o manto em uma cadeira e pela primeira vez fitei-lhe diretamente o olhos e disse: "Como vosso rei, ordeno que desfaça-se dessas tralhas todas, venda ou troque por alimentos, destrua esse palácio, não necessito dele, porque a minha casa é o mundo, é o povo e onde estiver minha riqueza ali estará também meu coração. E como último pedido, não lhe coroarei Rei de mim, pois já não existe mais coroa, mas entrego-lhe minha simples amizade, companheirismo e força para os tempos de dificuldade. Não serás julgado por mim, mas não posso dizer que não serás julgado por você mesmo, a todo momento. Vamos companheiro, há muitas coisas a serem feitas, não precisa limpar a poeira dos meus pés, eles já estão habituados ao tempo seco."
    Torno a repetir, Ó céus que descuido do monarca ao coroar-me rei de mim, não posso ser senhor da minha própria vida, pois se assim fosse, seria julgado a todo o momento, recebendo o título de culpado, morrendo um pouco mais a cada dia... Mas a partir de hoje, será o começo, apenas o começo do fim da nossa vida.

Ludimila do Nascimento Bassan